Santa Cruz do Sul celebra em 2025 três décadas de um legado inestimável na inserção social por meio da arte e da cultura hip hop. O nome por trás dessa trajetória é Sandro Bittencourt, mais conhecido como Sandrinho Hip Hop, um artista multifacetado que dedicou sua vida a projetos sociais, impactando milhares de crianças e adolescentes na cidade e em diversas regiões do Rio Grande do Sul.
Com mais de 30 anos de trabalho comunitário, Sandrinho consolidou-se como um dos principais agentes culturais e educacionais da cidade. Seu percurso começou ainda nos anos 1990, quando, inspirado por nomes como MV Bill, Gabriel o Pensador e Mario Pesão, encontrou na dança, no teatro e na música um caminho para transformar vidas. Desde então, já ministrou aulas para mais de duas mil crianças, passando por 96 escolas estaduais em 18 municípios.
Sandrinho Hip Hop iniciou sua jornada profissional como instrutor de hip hop e coreógrafo nas escolas Nossa Senhora da Esperança e Alfredo José Kliemann, atendendo cerca de 100 crianças e adolescentes da zona sul de Santa Cruz do Sul. No ano seguinte, tornou-se voluntário na Escola Santuário, consolidando um trabalho que logo se expandiria para outras instituições.
Entre 1999 e 2002, ele atuou como voluntário no Centro Social Urbano, no bairro Faxinal Velho, levando a dança hip hop para centenas de crianças e jovens. A aceitação do movimento foi tão grande que, mesmo diante de preconceitos históricos contra o hip hop, Sandrinho nunca desistiu. “Ver aquelas crianças dançando e aprendendo era tudo para mim”, relembra.
Em 2003 e 2004, desenvolveu projetos como o Grupo Breaking Boys, que reunia jovens apaixonados pelo breakdance, além de atuar como Amigo da Escola na Escola Santuário. Nos anos seguintes, suas aulas chegaram ao SESI e SENAI de Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, integrando o Projeto Novo Horizonte.
A influência de Sandrinho na cultura hip hop não ficou restrita ao ensino. Em 2005, ele participou do Prêmio Hutúz, o maior encontro de hip hop da América Latina, realizado no Rio de Janeiro. Em 2011, concluiu um curso de teatro na Faculdade ECOA, também na capital carioca. No mesmo período, tornou-se o único coreógrafo da cidade registrado no Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos do Rio Grande do Sul (SATED/RS).
Ao longo dos anos, Sandrinho consolidou-se como um porta-voz da educação e prevenção ao uso de drogas em diversas instituições, incluindo a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e a Faculdade Dom Alberto. Suas palestras e atividades chegaram a escolas emblemáticas como Mauá, São Luís, Rosário, Ernesto Alves, Bom Jesus e muitas outras.
De 2015 a 2016, ministrou aulas de dança e teatro pela Fundação Gazeta, ampliando seu trabalho para cidades como Vale do Sol, em parceria com órgãos como a Secretaria da Saúde, Assistência Social e CRAS. Em 2017 e 2018, levou sua arte para o CRAS de Candelária, atuando com jovens em situação de vulnerabilidade.
Entre 2010 e 2020, Sandrinho integrou o Projeto Alegria e Esperança como coreógrafo e instrutor de teatro. Mais recentemente, de 2014 a 2023, continuou sua atuação na Escola Alfredo José Kliemann, e desde abril de 2023 ministra aulas de rima na Escola Luiz Dourado. Atualmente, trabalha como Assistente Social na Secretaria Regional de Educação (6ª CRE), no Núcleo de Bem-Estar Escolar, atendendo escolas estaduais.
Em seu trigésimo ano de trajetória social, Sandrinho encara um novo desafio: a criação do Projeto LEGADO NEGRO, que busca destacar a importância das personalidades negras na construção da identidade cultural e histórica do Rio Grande do Sul. Para ele, dar visibilidade a essas histórias é fundamental para inspirar novas gerações e promover a valorização da cultura afro-brasileira.
“Nosso estado tem uma história riquíssima de personalidades negras que contribuíram significativamente para a cultura, educação e sociedade. Precisamos contar essas histórias para que a próxima geração se reconheça e se inspire nelas”, destaca Sandrinho.
Com três décadas de trabalho social, ele segue como um ícone da resistência, arte e transformação social em Santa Cruz do Sul e além. Seu legado é a prova de que a cultura hip hop vai muito além da música e da dança – é uma ferramenta poderosa de educação e cidadania.
